sábado, 20 de junho de 2009

Lagartixa amnésica

Como a nossa mente é estranha. Eu já sabia disso, inclusive li recentemente uma matéria na Superinteressante que tratava sobre isso. A nossa mente é tão estranha que mesmo sabendo de sua estranheza, ainda me estranho com ela. Estive pensando sobre isso hoje porque selecionamos muito bem o que e como queremos nos lembrar das coisas. Lembro, por exemplo, de um dia em que eu deveria ter uns onze anos e escondi revistinhas de colorir embaixo do travesseiro para pintar durante a noite. Lembro de sonhos da infância, de cheiros específicos e dos sorvetes que tomava com o meu pai enquanto assistíamos futebol no campo. Lembro de terem me confundido com um menino na quarta série, porque minha mãe sempre cortava meu cabelo curtinho. Lembro do rosto de orgulho que ela fazia quando eu me saia bem em alguma coisa. Apesar disso, há coisas que não consigo me lembrar de jeito nenhum! Uma delas é cabelo. Vejo alguém hoje, se amanhã essa mesma pessoa corta o cabelo totalmente e me encontra, eu noto (claro) que o cabelo mudou, mas não consigo formar a imagem do seu rosto anterior. Decoro rapidamente o nome das pessoas, mas se elas estão fora do contexto no qual as conheci, já não sei quem são. Dentre todas essas peripécias da minha memória, a mais estranha, com certeza, é a parte que se refere aos meus sonhos. Acho que nem Freud explica. A minha família costuma falar que ninguém sonha com tantos detalhes como eu. Lembro do pirata que aparecia de madrugada, moranguinhos sendo assassinadas no meio do jardim, muitas cenas de terror (acho que é devido aos filmes que assisto) e muitas noites passadas trabalhando, o que me faz acordar cansada. Estou sonhando a mesma coisa durante essa semana. E muitas cenas eu não consigo me lembrar. Forço a memória para encaixar algumas peças. Ainda não consegui. Mas há algo que me incomoda. No meu sonho, meu pai vende bancos de madeira brancos com os pés coloridos. Há bancos brancos com pés verde, rosa, vermelho, laranja. O que isso significa? Existem bancos brancos com pés coloridos? Por que eles aparecem? Um psicólogo poderia até dizer que esses objetos simbolizam o que eu queria da minha vida, que ela ganhasse algum colorido, sei lá. Não é nada disso. Não acho que simbolize alguma coisa, só gostaria de saber por que bancos brancos com pés coloridos. Não poderiam ser cadeiras coloridas? Ou bancos de madeira, simplesmente? Enfim, se eu tivesse tempo e dinheiro, andaria por lojas de móveis até achar essa relíquia. E compraria o "banco dos meus sonhos". Enquanto isso, vou me estranhando com a minha cabeça. Sempre, até que algum alemão me faça perder totalmente a memória. Ou o juízo.

Um comentário:

Fabiana disse...

Adorei a parte do alemão...rs rs rs.