domingo, 12 de fevereiro de 2017

Vem

A garota havia trabalhado o dia todo. Sempre com um sorriso no rosto, disposta a distribuir felicidade. Olhar para o outro sempre fora mais fácil do que olhar a si mesma. "O que você deseja?" Ela pergunta, com a esperança de que não lhe façam esse questionamento. Ela não gosta de mentir. Quem a olha assim, nem imagina o que se passa dentro dela... Há alguns dias, ela confessou: "Se eu parar por um segundo, começo a chorar..." Por isso, ela não para. E esse tinha sido um dia assim. Cheio. Repleto de desejos alheios atendidos e com várias tentativas vãs de não pensar muito. Pensar magoa. Pensar faz com que ela volte ao sonho que teve uma noite dessas... ele estava lá, lindo. Viu a garota e lhe deu um abraço. Um abraço tão gostoso que até sonhando essa sensação se fez presente. Mas a garota não era ela. Nunca seria. Acordou com o coração apertado, os olhos molhados e decidiu não pensar naquilo, apesar da imagem ficar vagando em seu pensamento. Então, ela corre. De um lado para o outro, com o objetivo de manter-se ocupada... E ela havia trabalhado o dia todo... no fim do expediente, pega uma carona. Um carro cheio de pessoas desconhecidas, que pouco tinham a ver com ela. A conversa girava em torno dos planos para a noite. Ela não tinha nenhum. Só esperava não sonhar. Esperava estar tão cansada que realmente apagasse quando fosse para a cama. Ela prestava atenção na conversa, participava com alguns comentários e esvaziava a mente. Esvaziava-se de seu cheiro. Seu toque. Tentava não pensar naquilo tudo que não teria. Que não pertencia a ela. Até que a música toca... no rádio. O cantor dizia: "Eu só existo se for do seu lado..." Assim, ela entendeu. O tempo todo, a garota sobrevive. A vida passa sem que ela realmente se dê conta do que está passando. Mas só ao lá do dele ela existe. Ela sente. Ela deseja. Infelizmente, no sonho, e na vida, não é ela quem ganha seu abraço apertado no fim do dia... nunca vai ser. A noite chega, não há outra possibilidade. Mais uma noite solitária. Ela deita, com esperanças de que ele apareça novamente em seus sonhos e que dessa vez, por favor, venha sozinho.

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